sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Analisando Diabo veste Prada e Tempos Modernos

FRUSTRAÇÃO PESSOAL

No caso de Chaplin, a frustração está presente em vários momentos. Quando sai do sanatório e vê a fábrica fechada, quando é preso injustamente como agitador social, depois, na cadeia, se sentia tranqüilo, mas aí teve que ser solto, embora quisesse ficar. Quando vai trabalhar na fábrica de barcos, quase somos capazes de ver a decepção no seu rosto ao ser demitido. Há, em seguida duas tentativas frustradas de voltar para a prisão. Mas quando encontra a Garota, sua perspectiva sobre a vida muda: não quer mais ser preso, quer trabalhar para ter um lar. Consegue trabalho na loja de departamentos, mas é demitido e preso por dormir em serviço e causar prejuízos. Depois consegue trabalho como auxiliar de mecânico na fábrica, se enche de esperança: “Até que enfim trabalho! Agora teremos um lar de verdade!” – exclama. Mais uma vez tem seus planos frustrados: a fábrica entra em greve e, pra piorar, é preso novamente. Por fim, quando sai, consegue um trabalho como garçom em um Café, onde teria que cantar. Finalmente se encontra na profissão de artista: descobre o seu talento. Porém, é obrigado a fugir com a Garota porque os agentes do governo perseguiam-na. Ambos agora têm que viver como fugitivos.
Longe das atrapalhadas de Chaplin, o caso de Andréia é mais um conflito pessoal. Ela sabe de sua competência, mas não consegue arranjar emprego na área de jornalismo. Então, submete-se ao cargo de assistente. Esforça-se o mais que pôde, porém, não recebia o reconhecimento que esperava: “se faço alguma coisa certa, ela não reconhece. Nem agradece. Mas, se erro, ela é terrível... eu gostaria de ter, pelo menos, um pouco de reconhecimento. Eu tô me matando!” – se queixa a Nigel.
Todavia, Nigel foi o personagem que, em “O Diabo Veste Prada”, mas teve seus planos frustrados por Miranda. Ele fora indicado por ela para ser sócio de uma grande companhia internacional de moda. Chegou até confessar, desabafado, a Andréia: “pela primeira vez, em dezoito anos, vou poder tomar as decisões na minha vida sozinho!”. Porém, Miranda, em uma jogada pouco ética, para se manter no cargo de editora-chefe da Runway, força o presidente da empresa a contratar Jaqueline Follet (sua rival) ao invés de Nigel, seu grande colaborador na revista. 

COMPETITIVIDADE E INVEJA NO AMBIENTE DE TRABALHO

A competitividade, em “Tempos Modernos”, é bem clara no momento da reabertura da fábrica, no qual Chaplin chega correndo e empurrando as pessoas da multidão que se encontram em frente aos portões, conseguindo a última vaga para trabalhar: em uma época de escassez de empregos, ele foi capaz de se destacar.
Entretanto, em “O Diabo Veste Prada” essa questão é bem mais visível. Por, pelo menos, quatro vezes dizem a Andréia: “milhões de garotas se matariam por esse trabalho”. Nigel chegou a falar que, se ela deixasse o cargo, arranjaria outra pessoa rapidinho.
A competitividade se observa também entre os próprios funcionários. Emily não repassa todas as informações de forma clara e objetiva para Andréia. Sente inveja de sua colega: das roupas que Andy passa a vestir, da confiança que ela começa a adquirir de Miranda (claramente notável na ocasião da entrega da chave da casa da chefa) e, acima de tudo, por Andréia ter sido escolhida para viajar para Paris em seu lugar. Quando Emily está no hospital e Andy conta da decisão que Miranda obrigou ela a tomar, Emily diz enfurecida: “eu não dou a mínima se ela ia te despedir, te torturar ou marcá-la com ferro em brasa. Deveria ter dito não!” – exigindo da colega um comprometimento e uma fidelidade a qual ela própria jamais seria capaz.
Também a própria Miranda quase foi vítima da alta competitividade: queriam substituí-la por Jaqueline Follet, que era mais nova, estava mais atualizada e iria receber menos. Contudo, Miranda consegue ficar na empresa devido a sua grande rede de relacionamento: vários designers, editores, fotógrafos e modelos, aos quais ela tinha ajudado a descobrir e orientar e que a seguiriam para onde ela fosse, se saísse da Runway – que causaria grande queda na qualidade do serviço da revista.
Já em “Tempos Modernos” a inveja é deslocada de contexto: sai do trabalho para se colocar entre classes – as classe operárias tinham certo desejo de viver como a burguesia. Nota-se isso quando Chaplin sonha com a Garota: “já imaginou nós dois em uma casinha como esta?” Embora a casinha do sonho seja modesta, mas representa os anseios das classes daquela época, na qual se vivia miséria apesar do progresso. No episódio seguinte, Carlitos e a Órfã na loja de departamentos agem como dois burgueses: alimentação requintada, roupas de luxo, cama aconchegante. Veja o contraste que se faz entre a casinha do sonho e onde eles vão morar de verdade, entre a Garota dormindo no barracão caindo aos pedaços e ela deitada na cama da loja de departamentos. Quanta diferença! Trata-se de uma crítica à sociedade capitalista: uns com muito e outros com tão pouco.  

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