sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Analisando Diabo veste Prada e Tempos Modernos

APRENDIZAGEM

Toda aprendizagem resulta em mudança de atitude do indivíduo traduzida: na aquisição de habilidades especiais; em alguma forma de destreza ou, ainda, na manipulação de materiais ou instrumentos. É adquirir nova forma de conduta ou modificar uma forma de conduta anterior[1]. Em “O Diabo Veste Prada”, Andréia estava constantemente aprendendo, pois passa o filme quase que por completo tendo que superar seus próprios limites, sempre tentando fazer tudo com a maior perfeição possível a fim de ganhar algum reconhecimento de sua chefa. Aprendeu a superar as situações controversas apesar de não ser sua a área de identificação pessoal. Passou a ser mais madura em certos problemas desagradáveis solicitados por sua chefa. Aprendeu a se vestir melhor e, mais que isso, aprendeu sobre moda e a cultura da empresa, familiarizando-se com os procedimentos e linguagem comum ao grupo de trabalho no qual estava inserido. Porém, aprendeu na prática, através de observação, acertos e erros, não houve qualquer tipo de treinamento – o papel de Nigel foi essencial em sua aquisição de novos conhecimentos. Podemos dizer que ocorreu verdadeira aprendizagem porque esta “só ocorre quando o indivíduo dominou inteiramente o assunto objeto de aprendizado, domínio esse traduzido na aquisição de novas atitudes e habilidades”[2]: chegou um ponto que Andy não precisava mais dos conselhos de Nigel para se vestir bem ou das instruções de Emily para executar as tarefas exigidas por Miranda.
Diferente de Andréia, Carlitos deve ter passado por algum treinamento na Electro Steel Corp., visto que isso era o costume no meio fabril. Define-se treinamento como sendo “o processo de ajudar o empregado a adquirir eficiência no seu trabalho presente ou futuro, através de apropriados hábitos de pensamento e ação, habilidades, conhecimentos e atitudes”[3]. Porém, a aprendizagem era muito limitada, pois o funcionário era restrito a fazer só uma função na empresa, participando de um único processo na confecção do produto.
Mas, à medida que Carlitos vai mudando de trabalho, não recebe mais nenhuma instrução prévia, muito menos, treinamento específico – como Andréia, ele tem que aprender na prática. Do contrário, se os tivessem treinado, ele teriam sido muito mais eficientes em suas funções.

MEDOS

Uma constante em “O Diabo Veste Prada” era o medo que as pessoas tinham da reprovação de Miranda (não era respeito). Sua personalidade forte, causou impacto inclusive no momento da entrevista de Andréia: foi o primeiro contato com a sua chefa, por sinal, de forma bem desagradável; ela teve até dificuldade em se expressar.
Em seguida, o medo de perder o emprego ou de desagradar à chefa. Mas, com o desenrolar da trama também surge o medo de perder amigos, família e de se tornar uma pessoa fria como Miranda
Em “Tempos Modernos”, os medos eram muitos e variavam de acordo com o lugar social. Os patrões temiam as revoltas populares, o fechamento das fábricas, as greves, o risco de falência – não nos esqueçamos que era o momento posterior ao Crack da Bolsa de Nova York, em 1929, a economia ainda sofria em 1936 – no te que na primeira cena que o chefe da Electro Steel Corp. aparece a secretária lhe dá um comprimido (seria para combater o estresse daqueles dias turbulentos?). A classe burguesa tinha medo dos operário: a mulher correndo de Carlitos, quando ele sai da fábrica enlouquecido, é bem significativo nesse ponto.
Os trabalhadores, por outro lado, temiam os fechamentos das fábricas, o desempregados, a fome, a polícia, o clima de insegurança era geral. Onde iriam dormir? O que comer? Como conseguir outro emprego?

DIFICULDADES

As dificuldades que Andréia e Carlitos tiveram em comum foi adaptar-se ao ambiente de trabalho, enquanto este era um “desajustado”, aquela conseguiu se adaptar, mas a custa de sacrificar sua vida pessoal. Para ela, sua principal dificuldade era de conseguir conciliar a vida pessoal e o trabalho. “É difícil verdadeiro equilíbrio na vida profissional sem vida individual e familiar harmoniosa”[4], prova-o Miranda: divorciada duas vezes! Bem sucedida no trabalho, mas um fracasso na vida pessoal. A dedicação total a Runway tinha lhe custado muito caro, mas ela parecia mais preocupada com a imagem pessoal e com a repercussão do caso do que com a situação em si (um detalhe importante é que, pela primeira vez e única no filme, ela mostra seu lado sentimental, mais humano). Também sobre Emily nada se diz: não tem família, namorado, amigos... E Nigel é enfático (e irônico também) ao dizer: “avise-me quando sua vida pessoal virar fumaça, quer dizer que será promovida!”
As preocupações de Carlitos eram outras: a de conseguir emprego e de se manter lá. Se antes, ele quis permanecer na cadeia, depois do encontro com a Garota, queria constituir um lar: “eu vou conseguir! Vamos ter uma casa, nem que eu tenha que trabalhar para isso!” Mas como conseguir isso, sem qualificação e em meio a onda de desempregos que varria seu contexto histórico? Resposta: a economia informal – ele vira artista! (embora também por pouco tempo).


[1] Cf. CARVALHO, Antônio Vieira de. Administração de Recursos Humanos (vol. 1). São Paulo: Pioneira, 2004 p. 187.
[2] Ibidem.
[3] Idem, p. 154.
[4] WEIL, Pierre & TOMPAKOW, Roland. Relações Humanas na Família e no Trabalho. Rio de Janeiro: Vozes, 2005 (53ª Ed.) p. 17.

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