quinta-feira, 30 de setembro de 2010

9. A ESTRUTURA DO SISTEMA LEAN


9. A ESTRUTURA DO SISTEMA LEAN

A CASA[1]

Durante décadas, a Toyota saiu-se bem em aplicar e melhorar o STP no dia-a-dia da fábrica sem documentar a teoria do STP. Trabalhadores e administradores estavam constantemente aprendendo novos métodos e variações por meio da prática real no ambiente da fábrica. A comunicação era forte, tratando-se de uma empresa relativamente pequena, de forma que as ‘melhores práticas’ desenvolvidas na Toyota eram difundidas para suas outras plantas e também para seus fornecedores. Mas, à medida que as práticas amadureciam na Toyota, ficou claro que a tarefa de ensinar o STP para a base de fornecedores não terminava nunca. Assim, Fujio Cho, discípulo de Taiichi Ohno, desenvolveu uma representação simples – uma casa.

O diagrama “Casa do STP” tornou-se um dos símbolos mais facilmente reconhecíveis na indústria moderna. Por que uma casa? Porque uma casa é um sistema estrutural. A casa só é forte se o telhado, as colunas e as fundações são fortes. Uma conexão fraca fragiliza todo o sistema. Há diferentes versões da casa, mas os princípios fundamentais permanecem os mesmos. Começa com as metas de melhor qualidade, menor custo e melhor lead time – o telhado. Há duas colunas externas – Just-in-time, provavelmente a característica mais visível e mais popularizada do STP; e a automação, que essencialmente significa nunca deixar que um defeito passe para a próxima estação e liberar as pessoas, das máquinas – automação com um toque humano. No centro do sistema estão as pessoas. Finalmente, há vários processos e também nivelamento da produção, que significa nivelar a programação de produção tanto em volume quanto em variedade.

Cada elemento da casa por si só é crítico, mas mais importante é o modo como os elementos reforçam uns aos outros.

No alicerce da casa, está a estabilidade. Ironicamente, a exigência de trabalhar com pouco estoque e parar a produção quando há um problema gera instabilidade e um senso de urgência entre os trabalhadores. Na produção de massa, quando uma máquina estraga, não há senso de urgência: o departamento de manutenção é acionado para o conserto enquanto o estoque mantém as operações em funcionamento. Por outro lado, na produção enxuta, quando um operador pára um equipamento para consertar um problema, outras operações em seguida serão interrompidas, gerando uma crise. Assim, há sempre um senso de urgência entre todos na produção para que os problemas sejam resolvidos em conjunto a fim de reativar o equipamento. Se o mesmo problema acontece repetidamente, a administração logo conclui que essa situação é crítica e que esse pode ser o momento de investir na Manutenção Produtiva Total (TPM – Total Productive Maintenance), em que todos aprendem a limpar, inspecionar e manter os equipamentos. Um ato geral de estabilidade é necessário para que o sistema não seja constantemente interrompido.

As pessoas encontram-se no centro da casa porque somente através da melhoria contínua a operação pode chegar à estabilidade necessária. As pessoas devem ser treinadas para encontrar a perda e eliminar os problemas pela raiz perguntando-se repetidamente qual é a verdadeira causa desses problemas. A solução de problemas está nesse lugar para que se veja o que realmente está ocorrendo (genchi genbutsu).

O STP não é um kit de ferramentas. Não é apenas um conjunto de ferramentas enxutas como Just-in-time, células, 5S (classificar, organizar, limpar, padronizar e disciplinar), Kanban etc. É um sistema sofisticado de produção em que todas as partes contribuem para o todo. O todo, em sua base, concentra-se em apoiar e estimular as pessoas para que continuamente melhores os processos com que trabalham.


[1] LINKER, Jeffrey K. & MEIER, David. O Modelo Toyota – os 14 princípios do maior fabricante do mundo. Porto Alegre: Bookman, 2004 pp. 51-53.

Nenhum comentário:

Postar um comentário