sexta-feira, 24 de junho de 2011

Atire a primeira flor


Quando tudo parecer caminhar errado,
seja você a tentar o primeiro passo certo;
se tudo parecer escuro,

se nada puder ser visto,
acenda você a primeira luz,
traga para a treva,
você primeiro,
a pequena lâmpada;
quando todos estiverem chorando,

tente você o primeiro sorriso;
talvez não na forma de lábios sorridentes,

mas na de um coração que compreenda,
de braços que confortem;
se a vida inteira for um imenso não,

não pare você na busca do primeiro sim,
ao qual tudo de positivo deverá seguir-se;
quando ninguém souber coisa alguma,

e você souber um pouquinho,
seja o primeiro a ensinar,
começando por aprender você mesmo,
corrigindo-se a si mesmo;
quando alguém estiver angustiado à procura,

consulte bem o que se passa,
talvez seja em busca de você mesmo que este seu irmão esteja;
daí,

portanto,
o seu dever é ser o primeiro a aparecer,
o primeiro a mostrar-se,
primeiro que pode ser o único e,
mais sério ainda,
talvez o último;
quando a terra estiver seca,

que sua mão seja a primeira a regá-la;
quando a flor se sufocar na urze e no espinho,

que sua mão seja a primeira a separar o joio,
a arrancar a praga,
a afagar a pétala,
a acariciar a flor;
se a porta estiver fechada,

de você venha a primeira chave;
se o vento sopra frio,

que o calor de sua lareira seja a primeira proteção e primeiro abrigo.
Se o pão for apenas massa e não estiver cozido,

seja você o primeiro forno para transformá-lo em alimento.
Não atire a primeira pedra em quem erra.
De acusadores o mundo está cheio;

nem,
por outro lado,
aplauda o erro;
dentro em pouco,

a ovação será ensurdecedora;
ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu;
sua atenção primeiro para aquele que foi esquecido;
seja você o primeiro para aquele que não tem ninguém;
quando tudo for espinho,

atire a primeira flor;
seja o primeiro a mostrar que há caminho de volta,

compreendendo que o perdão regenera,
que a compreensão edifica,
que o auxílio possibilita,
que o entendimento reconstrói.
Atire você,

 quando tudo for pedra,
a primeira e decisiva flor.


Glácia Daibert

Nenhum comentário:

Postar um comentário